segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A resposta bastante amorosa de Deus

Por Jonas Madureira

A oração bastante ácida de um homem:

"
Acaso tens OLHOS DE CARNE?
Enxergas como os mortais?
Teus dias são como
os de qualquer mortal?
Os anos de tua vida
são como os do homem?
"

– Jó 10.4,5


A resposta bastante amorosa de Deus:

"E o Verbo SE FEZ CARNE e viveu entre nós"

– João 1.14

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Fé viva

O homem é um ser pré-disposto a religiosidade1. Não há pessoa que em sua mente não haja um senso de divindade. É impossível não crer em nada, mesmo para quem se diz ateu. Quem aceita o darwinismo, o big bang ou qualquer teoria científica, aceita por fé.

Mas qual seria a diferença da fé, a qual o homem está pré-disposto, à verdadeira fé que nos leva a Deus?
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." Efésios 2:8
Bom, em primeiro lugar devemos ressaltar que por natureza o homem é um ser decaído pelo pecado de Adão. O pecado original o corrompeu em sua totalidade e assim seu senso de religiosidade tende a leva-lo a superstição, a idolatria e hipocrisia. Somos como um objeto qualquer, que devido à força gravitacional é atraído para a terra e caso uma força de maior intensidade e sentido oposto não haja sobre ele, por terra ficará. Essa é a primeira diferença em relação à fé que nos leva a Deus. A fé salvística provém de Deus. Ela faz parte da intervenção divina para a salvação do homem.
"Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação." Tiago 1:17
Assim, a fé que nos salva é viva, enquanto qualquer outra fé é morta em si mesma.  A fé viva está acompanhada dos frutos do espírito (Gálatas 5v22). A fé morta está acompanhada das obras da carne (Gálatas 5v19-21). A fé que nos traz comunhão com Deus tem vinculo com o amor e a esperança (I Coríntios 13v13). A fé que uma vez foi dada aos santos (Judas 1v3) está centrada no sacrifício de Jesus e seu objetivo é a glória de Deus. Em contraposição a fé morta busca a sua própria glória.

A plenitude da fé se manifesta em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22v37-39). Tiago, em sua carta, discorre sobre as evidencias da fé a partir desse princípio. A fé morta gera uma falsa religiosidade. A fé viva gera a religião pura e imaculada.

Dentre os cristãos, há os que não possuem a verdadeira fé, estes formam um cristianismo paralelo, exercitam-se corporalmente e não em piedade (I Timóteo 4v8). Contudo não convém a nós o julgamento, Deus conhece quem são Seus filhos. A semente da fé no coração dos justos faz que estes produzam seus frutos na estação própria, mas os ímpios são como a moinha que o vento espalha (Salmos 1v3-4).

Que o Senhor possa mais e mais transformar os nossos corações e nos firmar na fé. Busquemos sua misericórdia.

1 – Institutas Volume 1, capítulos III e IV.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A CCB e o Calvinismo

Tulipa, a flor símbolo do Calvinismo.
No último final de semana, um irmão fez uma pergunta interessante no grupo “International Christian Congregation” no facebook: “A Congregação Cristã no Brasil aceita os 5 Pontos do Calvinismo?”

Em primeiro lugar, o que é “calvinismo”?
Calvinismo é um complexo sistema teológico que surgiu a partir da reforma protestante no século XVI, tendo como expoente o reformador João Calvino e desenvolvido por diversos cristãos. Sua maior ênfase está na soberania divina na salvação dos homens. Geralmente seu conceito sobre a salvação é resumido em cinco tópicos conhecido como TULIP, desenvolvido a partir do Sínodo de Dordrecht.

Os cinco pontos do Calvinismo – TULIP

Depravação Total – Deus estabeleceu com Adão um pacto de obras, no qual a sua desobediência geraria a sua morte. Por permissão divina o homem desobedeceu à ordem de Deus e caiu em transgressão. Assim todos os que nascem, nascem num estado de morte e culpados. O homem está morto e depravado ao ponto de por si mesmo não consegue achegar-se novamente a Deus e nem tem vontade de fazê-lo a não ser que seja regenerado pelo Espírito Santo. Para fazer parte do reino de Deus é necessário nascer novamente, não pela vontade da carne, mas pela vontade de Deus.

Eleição Incondicional – Por Seus decretos eternos, antes da fundação do mundo, Deus escolheu aqueles aos quais haveria de chamar para Si, a eleição divina não foi por pré-conhecimento dos que haveriam de aceitá-lo, mas por pura misericórdia e amor de Deus aos Seus eleitos, aos quais antes de realizarem qualquer obra, quer seja boa ou má, Ele os amou.


Expiação Limitada* – Por amor aos seus escolhidos, Deus providenciou a salvação através do sacrifício de Seu Filho Jesus, o Cordeiro que tira o pecado do mundo, a morte do Salvador é potencialmente suficiente para pagar o pecado de todo o mundo, porém ela é somente eficaz e direcionada para aqueles Deus escolheu por Sua eleição.
O Senhor Jesus deu Sua vida somente por Suas ovelhas. 

Graça Irresistível – Existem dois chamados do evangelho: o externo, que é o convite do evangelho que devemos anunciar a todos sem distinção, esse convite pode ser rejeitado; o outro convite é o chamado interno, que é o realizado através do Espírito Santo no coração do ouvinte e a ele é concedido fé para crer em Jesus, a esse chamado não se pode resistir.

Perseverança dos Santos – Aqueles a quem Deus escolheu, chamou, justificou, santificou tem a segurança de que Ele concluirá Sua obra de salvação neles. Ainda que vacilem (pelos vestígios da natureza pecaminosa que ainda há neles) Deus nunca extinguirá Sua graça maravilhosa neles. A santificação só será concluída com a glorificação do corpo na volta do Senhor, nesse estágio toda a natureza pecaminosa será excluída e só se desejará fazer o que é agradável ao Senhor.

*No calvinismo, I Timóteo 2v4 é interpretado que Deus tem Seus eleitos nas diversas classes da sociedade. Existe uma variação do calvinismo, amyraldismo, que considera que na sequencia de Seus decretos, Deus primeiramente decidiu providenciar salvação suficiente a todos e depois eleger os Seus; assim o amyraldismo despreza o 3° ponto do calvinismo.


Minha análise:
A pergunta - A Congregação Cristã no Brasil aceita os 5 Pontos do Calvinismo? - é difícil de se responder. Temos pouca doutrina formalizada. E a doutrina na tradição oral e até nos tópicos anuais são contraditórios. Num mesmo culto onde você ouve “esta graça não é de quem corre atrás,” ou “quem não vem pelo amor, vem pela dor,” (as vezes hiper-calvinismo) você ouve: “cuidado para não cair da graça!” Só que mesmo as afirmações aparentemente calvinistas, se referem exclusivamente à denominação, o que soaria horrível aos ouvidos de verdadeiro calvinista. Tudo isso ocorre pela falta de um mínimo ensino formal aos membros. Embora alguns irmãos cheguem a ser extremamente “pelagianos” ou “semi-pelagianos”, acredito que se devidamente ensinados, nossa maioria não teria dificuldades em aceitar os cincos pontos do calvinismo. Diferente das outras denominações pentecostais que são fortemente “arminianas”. Agora, é impossível haver unanimidade doutrinaria entre os membros. Hoje, há uma diversidade muito grande de pensamentos, e cada pessoa (de qualquer denominação) acaba formando um “credo particular” para si.

Comentário do meu amigo Leo Alves:
“Acho imprecisa essa nomenclatura e a dicotomia "calvinismo x arminianismo". Talvez, Monergismo e Sinergismo ou a Questão da Soberania e Justiça de Deus soariam melhor. Vale lembrar que há outras perspectivas, como os Cumberland Presbyterians e o Amyraldismo. O Amyraldismo ou Escola de Saumur é parecido com os 5 pontos de Dordt mas aceita a expiação ilimitada. Foi a vertente que influenciou os Reformados de línguas latinas: huguenotes e valdenses, antes do grande réveil do século XX. Assim, é possível que a CCB tenha recebido um legado Amyraldista.”

Apesar da pergunta ter gerado repulsa em alguns que rejeitam qualquer título ou que desejam desvincular a CCB do protestantismo, boa parte dos que comentaram, se mostraram simpatizantes ao calvinismo, ou ao mesmo a uma visão “monergista” quanto à salvação, como esclareceu o Leo.


Que Deus nos continue “reformando”, ou seja, conformando-nos aos moldes da Sua Palavra.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Que fazes aqui Elias?

Em tempos como o nosso, onde a Igreja de Cristo é assaltada por tantos problemas - onde homens usurpam o lugar de seu verdadeiro Mestre, as fracas obras do legalismo se impõem ao lugar do verdadeiro sacrifício que nos dá paz com Deus, nega-se a autoridade das Escrituras, o Evangelho é distorcido, o pecado relativizado, o antropocentrismo ascende e multidões são lançadas ao erro - entristecem-se os que com sinceridade vivem para glória de Deus e propagação do Seu reino.

Nessas horas, os exemplos dos grandes homens de Deus registrados nas Escrituras e na história da Igreja, servem de ferramenta divina para o nosso consolo.
Nas nossas tristezas, esses exemplos nos mostram que Deus se usa das nossas vidas, que não estamos sozinhos no peregrinar e que nada nos pode separar do amor de Deus em Cristo Jesus.

Zimbro
Elias, o profeta, se entristeceu pelo pecado do povo de Israel, achava-se estar sozinho e, debaixo de um zimbro, buscou a morte. Mas sua missão não podia se encerrar ali, de uma maneira especial, o Senhor lhe preparou alimento para que caminhasse até o monte Horebe. O que Elias, até aquele momento debaixo do zimbro, não sabia, era que ele ainda seria instrumento de Deus para constituir reis e profeta, e o principal: o Senhor tinha reservado para si sete mil que não se prostraram ante a falsa religião.

Uma característica interessante de Elias, assim como de outros servos de Deus, é a repulsa ao pecado. Embora ele possuísse uma natureza pecaminosa como nós – ler Tiago 5v17 – ele abominava o pecado. 

Jonas também tinha repulsa ao pecado, e errou por tentar se esquivar de sua missão. Talvez ele se achasse incapacitado de pregar a condenação a uma cidade tão pecaminosa. Mas mesmo assim Deus o usou em Seu propósito (quem pode frustrar os Seus planos?). No ventre do animal marinho, o profeta fugitivo foi figura do Filho de Deus. Em terra, sua pregação, foi instrumento do Altíssimo para o arrependimento e fé de muitos.

Em sua vaidade, Jonas se entristeceu por não ver a cidade destruída, aliás, ele suspeitava que o intento de Deus fosse salvar aquele povo. Mas assim como a nós, o próprio Senhor usou dos meios necessários para modelá-lo conforme Sua vontade.

Termino este texto com uma frase do puritano John Owen (1616 – 1683):
“Os Cristãos não devem ficar surpresos ou desanimados se Deus lhes der uma tarefa que parece estar além de suas capacidades.”

terça-feira, 29 de abril de 2014

A Respeito dos Dons Espirituais: Continuacionismo ou Cessacionismo?


Aqui entramos num dos campos mais debatidos dos últimos tempos, desde que o movimento pentecostal, no início do século 20, disse ter restaurado todos os dons espirituais dos tempos apostólicos. Quero destacar quatro aspectos nesse sentido, para contribuir com o debate.

Inicialmente é preciso uma palavra sobre posicionamento teológico, pois geralmente quando alguém assume uma posição, surgem acusações e rótulos nem sempre felizes. Quando alguém se diz calvinista (ou arminiano), isso não significa necessariamente que essa pessoa concorde ou tenha que concordar com absolutamente tudo o que Calvino (ou Armínio) escreveu. Provavelmente os únicos dois que foram absolutamente calvinistas ou arminianos, nesse sentido, foram justamente Calvino e Arminio. Ser um calvinista hoje (como é o meu caso) significa seguir as linhas mestras do pensamento de Calvino, o qual, também pode ser encontrado em outros teólogos como Agostinho, do qual Calvino se dizia devedor, e acima de tudo, porque essas linhas mestras de pensamento são essencialmente bíblicas. E é só por isso que o calvinismo é tão excelente, na minha opinião, justamente por ser profundamente bíblico. O calvinismo não é uma camisa de força. Se fosse, estaria ocupando o lugar da Bíblia, e isso seria um tipo de idolatria. Só para dar um exemplo, hoje em dia, poucos calvinistas seguem o pensamento de Calvino em relação ao Domingo[1]. A maioria prefere seguir a posição da Confissão de Fé de Westminster (CFW)[2]. E alguém diria que a CFW não é calvinista?[3] Ou seja, mesmo que Calvino tivesse advogado uma posição estrita em relação ao cessacionismo ou ao continuacionismo, o fato de alguém adotar uma posição ligeiramente diferente não faz essa pessoa deixar de ser calvinista se ela mantiver as linhas mestras do pensamento reformado. O calvinismo é um sistema de teologia reformada, ou seja, uma correção dos problemas teológicos anteriores, especialmente os sustentados pela tradição romana. Mas não pretende ser a Palavra Final, pois o sistema pode ser continuamente reformado através das Escrituras.

Em segundo lugar, uma palavra deve ser dita sobre os termos. Continuacionismo e cessacionismo, na minha opinião, são termos impróprios. Não só porque não são bíblicos, como porque pretendem se impor sobre a própria Bíblia e, em última instância sobre o próprio Espírito. A Escritura diz que o Espírito concede os dons soberanamente, "conforme lhe apraz" (1Co 12.11). Mas os continuacionistas exigem que ele continue operando os mesmos sinais de outrora, e os cessacionistas exigem que ele não os realize mais. E o fato é que o Espírito Santo não disse nas Escrituras, de uma forma clara e inequívoca, nem uma coisa nem outra. Ao impor a opinião pessoal sobre a soberania do Espírito, ambos os grupos correm o risco de apagar o Espírito (1Ts 5.19). Os primeiros por se esquecerem que há um critério (1Ts 5.21), e os últimos por desprezarem o que Deus pode fazer (1Ts 5.20).

Em terceiro lugar, em linhas gerais os reformados creem que os dons revelacionais cessaram, mas os de ministério não. E aqui, mais uma vez, Calvino é útil, pois ao comentar sobre a atuação soberana do Espírito concedendo dons à igreja ele diz: "O Espírito de Deus, portanto, distribui estes dons entre nós, a fim de concentrarmos toda a nossa contribuição visando ao bem comum" (Comentário 1Co 1.12.11). Ou seja, Calvino cria que o Espírito ainda estava concedendo dons à igreja, porém, entendia que os dons revelacionais e também os de milagres e curas haviam desaparecido. Os primeiros porque a Revelação estava completa em Jesus Cristo, e os últimos por causa da própria evidência do Novo Testamento que aponta para o desaparecimento deles[4]. Calvino cria que diversos dons e ofícios eram temporários, pois tinham a função de lançar os fundamentos da igreja (Ef 2.20, Ver comentário em 1Co 12.28).

Parece de fato lógico pensar que os dons revelacionais não estão mais em atividade no mundo justamente porque Deus já revelou tudo o que era necessário para nossa salvação e aperfeiçoamento espiritual, e estas coisas estão registradas na Bíblia (2Tm 3.16-17). Tudo o que uma pessoa precisa para ser "perfeito e perfeitamente habilitado para boa obra" já foi registrado na Escritura (2Tm 3.17). Então, qual seria o sentido de Deus continuar revelando mais coisas assim? Por isso, quando continuamos buscando novas formas de revelação normativa, de certo modo estamos dizendo que o registro bíblico é insuficiente, e esta, sem dúvida é uma atitude perigosa. Mas isto não significa dizer que Deus parou de falar. Os reformados nunca defenderam essa posição. E, pasmem alguns, os reformados não insistem que Deus fala somente através das Escrituras. A teologia reformada sustenta, por exemplo, a chamada Revelação Geral. Significa dizer que Deus se revela através da natureza, conforme o Salmo 19 e Romanos 1.18ss tão claramente demonstram. Mas aqui chegamos ao ponto crucial. Nenhum reformado busca a revelação de Deus diretamente na natureza, antes observa a natureza através dos "óculos" das Escrituras. Portanto, em quarto lugar, a Escritura é o critério final, justamente por ser a Revelação Final. Ela tem o poder de julgar todas as demais maneiras de ouvirmos a voz de Deus. Parece que é justamente isso o que Paulo tem em mente quando ele diz "julgai todas as coisas, retende o que é bom", justamente num contexto de "não desprezar profecias" (2Ts 5.19-21).

Os reformados da Confissão de Fé de Westminster que declararam que uma vez que a Escritura está completa, "cessaram aqueles antigos modos de Deus revelar sua vontade ao seu povo" (I.1), complementaram isso dizendo que o critério último através do qual todas as disputas teológicas precisam ser solucionadas é "o Espírito Santo falando nas Escrituras" (I, 10). Os reformados criam em "iluminação espiritual", ou seja, que Deus pode sim falar comigo hoje. Ele pode me orientar nas decisões do dia a dia, mas não fará isso independentemente da Bíblia. Se Deus quiser, pode até mandar um anjo falar comigo, ou um sonho, ou a palavra iluminada de um crente fiel (alguém poderia dizer que Deus pode usar até uma mula se quiser, como no caso de Balaão). Mas nada disso será o critério final para eu saber qual é a vontade dele, até porque Paulo disse que se um anjo viesse falar aos gálatas um evangelho diferente daquele já revelado deveria ser considerado maldito (Gl 1.8). O meu critério é a Escritura. Através dela eu interpreto o modo como Deus fala na natureza. Através dela eu interpreto o modo como Deus pode falar no meu coração ou através de algum crente fiel. Estritamente, portanto, eu jamais chamaria esse "falar de Deus" de "nova revelação", pois se fosse, a Escritura não poderia ser juiz dele. Se a Escritura é seu juiz é porque esse falar de Deus não é novo, mas apenas um desdobramento daquilo que a Escritura já disse. Por isso o termo correto é iluminação.

Concluo dizendo que não creio em "novas revelações normativas", pois se acreditasse teria que dizer que a Bíblia ainda está sendo escrita. Creio que Deus "fala". O Espírito Santo habita o crente e o dirige, e ainda lhe deu um critério infalível para saber quando de fato ele está falando: a Escritura. Portanto, na minha opinião falar em ser estritamente continuacionista ou cessacionista é uma falácia metodológica. Alguns dons cessaram, outros não. Dons revelacionais eram temporários e cessaram, dons ministeriais continuam em ação. Acima de tudo, sejamos criteriosos. Não queiramos impor limitações para Deus, mas não nos esqueçamos dos limites que ele mesmo impôs: aquilo que ele já revelou e ordenou que fosse registrado na Escritura.

[1] Calvino parece não ver ligação entre o Domingo e o quarto mandamento, como posteriormente os Puritanos claramente veriam. Antes, entende que o Sábado foi abolido e o Domingo foi instituído para "fins eclesiásticos e políticos", ou seja, para que os trabalhadores tenham um dia de descanso e a igreja um dia para se reunir: "Pois, visto que para suprimir-se a superstição se impunha isto, foi abolido o dia sagrado observado pelos judeus; e como era necessário para se conservarem o decoro, a ordem e a paz na Igreja, designou-se outro dia, o domingo, para este fim" (Institutas, II, 33). Calvino inclusive entendia que, se uma igreja quisesse escolher outro dia para se reunir, embora ele próprio entendesse ser o Domingo o dia mais indicado, contudo não se oporia: "A tal ponto, contudo, não me prendo ao número sete que obrigue a Igreja à sua servidão, pois não haverei de condenar as igrejas que tenham outros dias solenes para suas reuniões, desde que se guardem da superstição. Isto ocorrerá, se se mantiver a observância da disciplina e da ordem bem regulada" (Institutas, II, 34).

[2] "Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão" (CFW, XXI.7).

[3] Exceto, é claro, R. T. Kendall e os antinomianos...

[4] No caso do dom de curar, é interessante que Paulo não parece mais evidenciá-lo no final de seu ministério quando ao invés de curar Timóteo mandou que ele bebesse vinho misturado com água por causa de suas constantes enfermidades de estômago (1Tm 5.23). E também, em outra ocasião, ao invés de curar Trófimo, diz que deixou-o doente em Mileto (2Tm 4.20).

Artigo publicado em: http://www.ipsantoamaro.com.br/artigos/a-respeito-dos-dons-espirituais-continuacionismo-ou-cessacionismo.html


domingo, 30 de março de 2014

Over The Rainbow

Essa música secular, composição de Harold Arlen e letra de Yip Harburg, mostra uma mensagem de esperança em meio ao caos da humanidade. Note que é do período entre as duas guerras mundiais. Para os que creem em Jesus, um lugar de paz e alegria não é simplesmente um sonho, temos um lugar preparado, não simplesmente “depois do arco-íris”, mas “além do Jordão” como referido em diversos hinos protestantes.
Em Jesus repousa nossa esperança.


“Em algum lugar além do arco-íris, voam pássaros azuis...”

"Over The Rainbow" - Yip Harburg, autor.


Interpretação da cantora Pink, no Oscar 2014.

sexta-feira, 21 de março de 2014

21 de março de 1557

Pierre Richier e Guillaume Chartier - Monumento sobre a 1ª Santa ceia protestante no Brasil.

Em 21 de março de 1557, ao terceiro domingo, era celebrada no Brasil a primeira santa ceia protestante pelo pastor huguenote Pierre Richier. A história dos calvinistas franceses na baía de Guanabara é emocionante e trágica. Para saber mais sobre o assunto segue alguns links:

A presença dos reformados franceses no Brasil colonial - Franklin Ferreira

Celebrando 10.03.1557 e a Confissão de Fé da Guanabara – Solano Portela

Os 450 anos da primeira Santa Ceia realizada no Brasil e na América – Revista Ultimato 2007

quarta-feira, 19 de março de 2014

O Senhor se rirá deles...

“Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vàs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.” Salmos 2:1-4
Há uma aparente liberdade. Segue-se o que se deseja seguir. Os homens se perdem em suas superstições, ciências, ideologias etc. São levados a seus caminhos tortuosos e conspiram contra o Messias.

Temos duas considerações importantes sobre nossa realidade:

O Pecado original: em todos gerou a morte, a depravação da nossa natureza, trouxe as calamidades e todos os prejuízos ao mundo, além da condenação dos homens.  Os que são remidos pela fé em Cristo são livres da condenação e do poder do pecado, contudo ainda são sujeitos a pecar por sua natureza, mas tem justificação na obra consumada na cruz.

A Graça Comum: “Graça comum é a graça de Deus pela qual Ele dá às pessoas bênçãos inumeráveis que não são parte da salvação” -  Wayne Grudem. Tanto os ímpios quanto os remidos são beneficiados por ela.  A vida terrena, o raiar do sol, a chuva, as colheitas, a capacidade física, moral, intelectual, a criatividade entre muitas outras coisas, estão incluídas nela.

Dessas considerações temos que no presente tantos os justos quantos os injustos estão sujeitos às mesmas coisas que ocorrem na terra.

“Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, E dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Eles voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste.” 2 Pedro 3:3-5
Ouvi uma infeliz declaração dias atrás: “Vocês acham que Deus governa o mundo? Não, o dinheiro governa o mundo”.  Naquele momento veio a minha mente: “O Senhor se rirá deles”.

O fim se aproxima – que bela palavra: “fim”. O dia do “grande trono branco” vem chegando, o juízo final. As nações se lamentarão. 

“Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; (...)” 2Pedro 3:10.

Então contemplaremos o que é a realidade, e não o que é em parte, o que é vaidade.

Ai dos que conspiram contra Deus e o Seu Ungido. Porém os remidos tem gloriosa segurança, não em seus méritos, mas no sacrifício de Jesus.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Houve Um...

Carrie Breck
Segue alguns comentários sobre um dos mais belos e profundos hinos cantado em nossas santas ceias, mas que geralmente passa despercebido. Nos “hinos de louvores e súplicas a Deus” chama-se “Foi por mim que morreste”. É uma tradução da versão italiana do ancião Massimiliano Tosetto (1877-1948): “Sulla Croce per Me”. A versão original “Nailed to the Cross” 1899 é de autoria da senhora Carrie Breck e composição de Grant C. Tullar.

Carrie Elizabeth Ellis Breck (1855-1934) - Nasceu em Walden ao norte de Vermont, mudando-se com sua família para  Vineland, New Jersey, em 1863. Casou-se com Frank A. Breck em 28 de maio de 1883. O casal teve cinco filhas. Foram membros da “First Presbyterian Church of Vineland”.  A família Breck mudou-se para Portland, Oregon em 1914, onde Carrie permaneceu até sua morte em 1934.

G. C. Tullar
Grant Colfax Tullar (1869-1950) – Sua mãe faleceu quando ele tinha apenas dois anos. Seu pai, empobrecido e impossibilitado de trabalhar após ser ferido na guerra civil americana, repartiu os noves filhos entre vários parentes. Grant passou por várias casas até chegar a morar na casa de um homem que não era seu parente e o maltratava. Fugiu e ainda criança trabalhou em uma fábrica de lãs. Na adolescência se entregou aos vícios e aos 18 anos numa noite de inverno bêbado e desesperado quase se lançou de uma balsa ao mar, um idoso o conteve e a partir desse momento resolveu buscar a Deus. Aos 19 ele se converteu ao metodismo em uma reunião campal. Frequentou a Hackettstown Academy em Nova Jersey. Ordenado ministro metodista, ele pastoreou por um curto período de tempo em Dover, Delaware, em seguida, tornou-se um evangelista em tempo integral. Em 1893, ele e Isaac Meredith fundaram a Tullar-Meredith editora de música em Nova York.


A letra deste hino em seu original apresenta alguns detalhes sobre a obra de salvação, meus comentários a seguir sobre cada uma das três estrofes podem ser básicos, entretanto, acredito que sejam necessários a muitos.

Justificação
1. Houve Um que estava disposto a morrer em meu lugar,Que [hoje] uma alma tão indigna pode viver;E o caminho da cruz, dispôs-se a trilhar,Para perdoar todos os pecados da minha vida.

O homem é um ser decaído, está morto no pecado de Adão, a profecia de que morreria caso comesse do fruto da arvore da ciência do bem e do mal se cumpriu com sua desobediência, permanecendo debaixo da condenação eterna. Deus é santo, Deus é justo, como agradar a Ele? Através de Moisés, Deus lhe trouxe a lei, que indicava a perfeita obediência que realmente Lhe agradaria. Mas por ser morto e decaído, homem algum a cumpriu. Mas espere, “houve Um que estava disposto a morrer em meu lugar.” Jesus Cristo, o Cordeiro imaculado, o Leão da tribo de Judá, verdadeiro homem, verdadeiro Deus, cumpriu por inteira a lei em nosso lugar, e para nos justificar se ofereceu em sacrifício ao Pai. (Ver Isaías 53).

Refrão: Estão cravados na cruz! Estão cravados na cruz!
Oh, quanto Ele estava disposto a suportar!Com qual angústia e perda Jesus foi a cruz,
Mas, lá, levou meus pecados consigo.

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” Colossenses 2:14
As bênçãos de Deus estavam reservadas a quem guardasse a lei por completo, aos transgressores (todos nós) estava reservada apenas a maldição (Ver Deuteronômio  27 e 28). Mas como disse Paulo aos Gálatas: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;” Gálatas 3:13.

Santificação
2 Ele é terno, amoroso e paciente comigo,
Enquanto purifica meu coração da escória;
Mas “nenhuma condenação há” — Eu sei que sou livre, Pois os meus pecados estão todos cravados na cruz.

Esse versos nos descrevem de uma maneira objetiva e clara, porém completa e elegante o que é a obra de santificação nas nossas vidas. Aquele O qual morreu em nosso lugar para nos justificar é Quem com paciência tira a escória do pecado do nosso coração. Nesta vida a santificação é contínua, mas incompleta, por isso esperamos que no retorno de Jesus nosso corpo seja transformado à semelhança de Seu corpo glorificado, quando então seremos livres de nossa natureza pecaminosa, referida na bíblia como “carne”. Mas apesar de toda a nossa imperfeição, pois pecamos continuamente contra os preceitos de Deus, sabemos que “(...) agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Romanos 8:1. É a esse trecho que a autora faz referência nas palavras entre aspas da segunda estrofe.
E mas adiante no capitulo 8 aos Romanos: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Romanos 8:33-34. (Leia o capitulo inteiro).

E o que nos resta fazer?
3. Vou me apegar ao meu Salvador e nunca O deixar,
Viverei alegremente a cada dia,
Com uma canção em meus lábios e uma canção em meu coração,
Que os meus pecados foram levados.

As palavras do próprio Salvador podem concluir o raciocínio sobre o sentimento de gratidão produzido nos corações dos remidos descritos nesses versos:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.” João 10:27-28.

“Ao Cordeiro de Deus, sempre glória darei, pois do céu, veio para salvar; Ao meu bom Salvador sempre exaltarei; Santas bênçãos me faz desfrutar.”

Os dados biográficos dos autores foram obtidos em:

O hino original em inglês e a partitura podem ser obtidos em: