domingo, 7 de abril de 2024

Como assim “sepultar o Senhor”?

Nos últimos anos as igrejas da Congregação Cristã no Brasil passaram a construir pequenos “sepulcros” nos próprios terrenos das casas de oração reservados para se enterrar as sobras das Santas Ceias e em muitas localidades, após o culto com Santa Ceia, a comunidade é convidada para acompanhar algum irmão do ministério “sepultar o corpo do Senhor”.

Tal prática é um erro gravíssimo à luz das Escrituras. 


No momento da Santa Ceia - embora as substâncias dos elementos se mantenham as mesmas - os fieis em verdade comem do corpo e bebem do sangue do Senhor pela fé, de uma forma espiritual, pois o Senhor se faz presente entre eles. I Coríntios 10:16 


Mas ao fim do serviço dizer que irão “sepultar o Senhor" é errado pelos seguintes motivos:


  • Deus, o Pai, ressuscitou o Filho cumprindo a profecia que o corpo do Messias não veria a corrupção, ou seja, não seria deteriorado - Atos 2:31-32;
  • As discípulas chegaram ao sepulcro foram recebidas pelos anjos: "Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou" - Lucas 24:5-6;
  • O mesmo corpo que foi ferido pela lança do soldado, coroado de espinhos, atravessado de cravos, foi glorificado ao ressuscitar de modo que deixou de ser limitado pelas barreiras físicas, mas que mantinha as marcas das feridas conforme o Senhor mostrou aos apóstolos e com esse mesmo corpo (uma vez ferido e depois glorificado) o Senhor subiu aos céus onde intercede pela Igreja - Ev. João 20:27, Hebreus 7:24-27;
  • E por fim as Escrituras ensinam que Jesus é o primeiro da ressurreição e que a exemplo dele os fieis serão também ressuscitados e glorificados - I Coríntios 15:20, I Tessalonicenses 4:14.


Logo, quando dizemos que vamos “sepultar o corpo do Senhor” quebramos diversas doutrinas bíblicas: desde que o corpo do Senhor não seria deteriorado até o seu ministério de intercessão. 


Se o Pai tirou o Filho do sepulcro, por que vamos sepultá-lo novamente? 


“E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.” I Coríntios 11:19


domingo, 15 de novembro de 2015

Como assim crédito com Deus?

Desde criança costumo ouvir uma frase que me causa certa estranheza. Algumas pessoas, ao passarem por problemas cotidianos, dizem que exigem de Deus, caso tenham “crédito” com Ele, que lhes atendam suas necessidades.

A questão é: quem teria “crédito” com Ele?

1. Qualquer boa obra que se realize é insuficiente para agradar a Deus conforme é exigido em Sua lei.

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam.” Isaías 64:6 

2. Por mais que fizermos o que é bom, estamos simplesmente cumprindo o que nos é devido fazer.

“Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.” Lucas 17:10

3. Toda boa obra em nós provém do próprio Deus e, portanto, não nos dá crédito algum a não ser aumentar nossa dívida a divina graça.

“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1:17

4. O homem é incapaz de pagar sua própria dívida com Deus e o próprio Verbo teve que se encarnar, assumindo nossa natureza, e se oferecer ao Pai para pagar nossa dívida.

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” Colossenses 2:14

5. O homem é criação de Deus, e logicamente, não lhe é credor. 

“Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?” Romanos 11:34,35

Jó, um símbolo de boa moral na Bíblia, ao ser afligido, tentou argumentar de que não merecia estar em miserável estado, utilizando sua justiça. Qual, porém, foi a resposta divina?

“Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria? Quem argüi assim a Deus, responda por isso.
Então Jó respondeu ao Senhor, dizendo: Eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho à boca.” Jó 40:2-4 

Nas nossas dificuldades, resta-nos, como Jó, confessarmos nossa decadência e recorrermos à misericórdia divina.

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” Romanos 11:36

quinta-feira, 5 de março de 2015

O elemento racional e o elemento emocional na história da redenção

O elemento racional:

a lógica

“E será que, se ouvires a voz do SENHOR teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o SENHOR teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra.” Deuteronômio 28:1
“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:” Deuteronômio 28:15

o resultado

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;”  Romanos 3:23
“Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.” Romanos 2:12


O elemento emocional:

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16
“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Romanos 5:8


A conciliação desses elementos na morte na cruz:

“A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram.” Salmos 85:10
“Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” João 19:30

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A resposta bastante amorosa de Deus

Por Jonas Madureira

A oração bastante ácida de um homem:

"
Acaso tens OLHOS DE CARNE?
Enxergas como os mortais?
Teus dias são como
os de qualquer mortal?
Os anos de tua vida
são como os do homem?
"

– Jó 10.4,5


A resposta bastante amorosa de Deus:

"E o Verbo SE FEZ CARNE e viveu entre nós"

– João 1.14

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Fé viva

O homem é um ser pré-disposto a religiosidade1. Não há pessoa que em sua mente não haja um senso de divindade. É impossível não crer em nada, mesmo para quem se diz ateu. Quem aceita o darwinismo, o big bang ou qualquer teoria científica, aceita por fé.

Mas qual seria a diferença da fé, a qual o homem está pré-disposto, à verdadeira fé que nos leva a Deus?
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." Efésios 2:8
Bom, em primeiro lugar devemos ressaltar que por natureza o homem é um ser decaído pelo pecado de Adão. O pecado original o corrompeu em sua totalidade e assim seu senso de religiosidade tende a leva-lo a superstição, a idolatria e hipocrisia. Somos como um objeto qualquer, que devido à força gravitacional é atraído para a terra e caso uma força de maior intensidade e sentido oposto não haja sobre ele, por terra ficará. Essa é a primeira diferença em relação à fé que nos leva a Deus. A fé salvística provém de Deus. Ela faz parte da intervenção divina para a salvação do homem.
"Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação." Tiago 1:17
Assim, a fé que nos salva é viva, enquanto qualquer outra fé é morta em si mesma.  A fé viva está acompanhada dos frutos do espírito (Gálatas 5v22). A fé morta está acompanhada das obras da carne (Gálatas 5v19-21). A fé que nos traz comunhão com Deus tem vinculo com o amor e a esperança (I Coríntios 13v13). A fé que uma vez foi dada aos santos (Judas 1v3) está centrada no sacrifício de Jesus e seu objetivo é a glória de Deus. Em contraposição a fé morta busca a sua própria glória.

A plenitude da fé se manifesta em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22v37-39). Tiago, em sua carta, discorre sobre as evidencias da fé a partir desse princípio. A fé morta gera uma falsa religiosidade. A fé viva gera a religião pura e imaculada.

Dentre os cristãos, há os que não possuem a verdadeira fé, estes formam um cristianismo paralelo, exercitam-se corporalmente e não em piedade (I Timóteo 4v8). Contudo não convém a nós o julgamento, Deus conhece quem são Seus filhos. A semente da fé no coração dos justos faz que estes produzam seus frutos na estação própria, mas os ímpios são como a moinha que o vento espalha (Salmos 1v3-4).

Que o Senhor possa mais e mais transformar os nossos corações e nos firmar na fé. Busquemos sua misericórdia.

1 – Institutas Volume 1, capítulos III e IV.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A CCB e o Calvinismo

Tulipa, a flor símbolo do Calvinismo.
No último final de semana, um irmão fez uma pergunta interessante no grupo “International Christian Congregation” no facebook: “A Congregação Cristã no Brasil aceita os 5 Pontos do Calvinismo?”

Em primeiro lugar, o que é “calvinismo”?
Calvinismo é um complexo sistema teológico que surgiu a partir da reforma protestante no século XVI, tendo como expoente o reformador João Calvino e desenvolvido por diversos cristãos. Sua maior ênfase está na soberania divina na salvação dos homens. Geralmente seu conceito sobre a salvação é resumido em cinco tópicos conhecido como TULIP, desenvolvido a partir do Sínodo de Dordrecht.

Os cinco pontos do Calvinismo – TULIP

Depravação Total – Deus estabeleceu com Adão um pacto de obras, no qual a sua desobediência geraria a sua morte. Por permissão divina o homem desobedeceu à ordem de Deus e caiu em transgressão. Assim todos os que nascem, nascem num estado de morte e culpados. O homem está morto e depravado ao ponto de por si mesmo não consegue achegar-se novamente a Deus e nem tem vontade de fazê-lo a não ser que seja regenerado pelo Espírito Santo. Para fazer parte do reino de Deus é necessário nascer novamente, não pela vontade da carne, mas pela vontade de Deus.

Eleição Incondicional – Por Seus decretos eternos, antes da fundação do mundo, Deus escolheu aqueles aos quais haveria de chamar para Si, a eleição divina não foi por pré-conhecimento dos que haveriam de aceitá-lo, mas por pura misericórdia e amor de Deus aos Seus eleitos, aos quais antes de realizarem qualquer obra, quer seja boa ou má, Ele os amou.


Expiação Limitada* – Por amor aos seus escolhidos, Deus providenciou a salvação através do sacrifício de Seu Filho Jesus, o Cordeiro que tira o pecado do mundo, a morte do Salvador é potencialmente suficiente para pagar o pecado de todo o mundo, porém ela é somente eficaz e direcionada para aqueles Deus escolheu por Sua eleição.
O Senhor Jesus deu Sua vida somente por Suas ovelhas. 

Graça Irresistível – Existem dois chamados do evangelho: o externo, que é o convite do evangelho que devemos anunciar a todos sem distinção, esse convite pode ser rejeitado; o outro convite é o chamado interno, que é o realizado através do Espírito Santo no coração do ouvinte e a ele é concedido fé para crer em Jesus, a esse chamado não se pode resistir.

Perseverança dos Santos – Aqueles a quem Deus escolheu, chamou, justificou, santificou tem a segurança de que Ele concluirá Sua obra de salvação neles. Ainda que vacilem (pelos vestígios da natureza pecaminosa que ainda há neles) Deus nunca extinguirá Sua graça maravilhosa neles. A santificação só será concluída com a glorificação do corpo na volta do Senhor, nesse estágio toda a natureza pecaminosa será excluída e só se desejará fazer o que é agradável ao Senhor.

*No calvinismo, I Timóteo 2v4 é interpretado que Deus tem Seus eleitos nas diversas classes da sociedade. Existe uma variação do calvinismo, amyraldismo, que considera que na sequencia de Seus decretos, Deus primeiramente decidiu providenciar salvação suficiente a todos e depois eleger os Seus; assim o amyraldismo despreza o 3° ponto do calvinismo.


Minha análise:
A pergunta - A Congregação Cristã no Brasil aceita os 5 Pontos do Calvinismo? - é difícil de se responder. Temos pouca doutrina formalizada. E a doutrina na tradição oral e até nos tópicos anuais são contraditórios. Num mesmo culto onde você ouve “esta graça não é de quem corre atrás,” ou “quem não vem pelo amor, vem pela dor,” (as vezes hiper-calvinismo) você ouve: “cuidado para não cair da graça!” Só que mesmo as afirmações aparentemente calvinistas, se referem exclusivamente à denominação, o que soaria horrível aos ouvidos de verdadeiro calvinista. Tudo isso ocorre pela falta de um mínimo ensino formal aos membros. Embora alguns irmãos cheguem a ser extremamente “pelagianos” ou “semi-pelagianos”, acredito que se devidamente ensinados, nossa maioria não teria dificuldades em aceitar os cincos pontos do calvinismo. Diferente das outras denominações pentecostais que são fortemente “arminianas”. Agora, é impossível haver unanimidade doutrinaria entre os membros. Hoje, há uma diversidade muito grande de pensamentos, e cada pessoa (de qualquer denominação) acaba formando um “credo particular” para si.

Comentário do meu amigo Leo Alves:
“Acho imprecisa essa nomenclatura e a dicotomia "calvinismo x arminianismo". Talvez, Monergismo e Sinergismo ou a Questão da Soberania e Justiça de Deus soariam melhor. Vale lembrar que há outras perspectivas, como os Cumberland Presbyterians e o Amyraldismo. O Amyraldismo ou Escola de Saumur é parecido com os 5 pontos de Dordt mas aceita a expiação ilimitada. Foi a vertente que influenciou os Reformados de línguas latinas: huguenotes e valdenses, antes do grande réveil do século XX. Assim, é possível que a CCB tenha recebido um legado Amyraldista.”

Apesar da pergunta ter gerado repulsa em alguns que rejeitam qualquer título ou que desejam desvincular a CCB do protestantismo, boa parte dos que comentaram, se mostraram simpatizantes ao calvinismo, ou ao mesmo a uma visão “monergista” quanto à salvação, como esclareceu o Leo.


Que Deus nos continue “reformando”, ou seja, conformando-nos aos moldes da Sua Palavra.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Que fazes aqui Elias?

Em tempos como o nosso, onde a Igreja de Cristo é assaltada por tantos problemas - onde homens usurpam o lugar de seu verdadeiro Mestre, as fracas obras do legalismo se impõem ao lugar do verdadeiro sacrifício que nos dá paz com Deus, nega-se a autoridade das Escrituras, o Evangelho é distorcido, o pecado relativizado, o antropocentrismo ascende e multidões são lançadas ao erro - entristecem-se os que com sinceridade vivem para glória de Deus e propagação do Seu reino.

Nessas horas, os exemplos dos grandes homens de Deus registrados nas Escrituras e na história da Igreja, servem de ferramenta divina para o nosso consolo.
Nas nossas tristezas, esses exemplos nos mostram que Deus se usa das nossas vidas, que não estamos sozinhos no peregrinar e que nada nos pode separar do amor de Deus em Cristo Jesus.

Zimbro
Elias, o profeta, se entristeceu pelo pecado do povo de Israel, achava-se estar sozinho e, debaixo de um zimbro, buscou a morte. Mas sua missão não podia se encerrar ali, de uma maneira especial, o Senhor lhe preparou alimento para que caminhasse até o monte Horebe. O que Elias, até aquele momento debaixo do zimbro, não sabia, era que ele ainda seria instrumento de Deus para constituir reis e profeta, e o principal: o Senhor tinha reservado para si sete mil que não se prostraram ante a falsa religião.

Uma característica interessante de Elias, assim como de outros servos de Deus, é a repulsa ao pecado. Embora ele possuísse uma natureza pecaminosa como nós – ler Tiago 5v17 – ele abominava o pecado. 

Jonas também tinha repulsa ao pecado, e errou por tentar se esquivar de sua missão. Talvez ele se achasse incapacitado de pregar a condenação a uma cidade tão pecaminosa. Mas mesmo assim Deus o usou em Seu propósito (quem pode frustrar os Seus planos?). No ventre do animal marinho, o profeta fugitivo foi figura do Filho de Deus. Em terra, sua pregação, foi instrumento do Altíssimo para o arrependimento e fé de muitos.

Em sua vaidade, Jonas se entristeceu por não ver a cidade destruída, aliás, ele suspeitava que o intento de Deus fosse salvar aquele povo. Mas assim como a nós, o próprio Senhor usou dos meios necessários para modelá-lo conforme Sua vontade.

Termino este texto com uma frase do puritano John Owen (1616 – 1683):
“Os Cristãos não devem ficar surpresos ou desanimados se Deus lhes der uma tarefa que parece estar além de suas capacidades.”