sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Fé viva

O homem é um ser pré-disposto a religiosidade1. Não há pessoa que em sua mente não haja um senso de divindade. É impossível não crer em nada, mesmo para quem se diz ateu. Quem aceita o darwinismo, o big bang ou qualquer teoria científica, aceita por fé.

Mas qual seria a diferença da fé, a qual o homem está pré-disposto, à verdadeira fé que nos leva a Deus?
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." Efésios 2:8
Bom, em primeiro lugar devemos ressaltar que por natureza o homem é um ser decaído pelo pecado de Adão. O pecado original o corrompeu em sua totalidade e assim seu senso de religiosidade tende a leva-lo a superstição, a idolatria e hipocrisia. Somos como um objeto qualquer, que devido à força gravitacional é atraído para a terra e caso uma força de maior intensidade e sentido oposto não haja sobre ele, por terra ficará. Essa é a primeira diferença em relação à fé que nos leva a Deus. A fé salvística provém de Deus. Ela faz parte da intervenção divina para a salvação do homem.
"Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação." Tiago 1:17
Assim, a fé que nos salva é viva, enquanto qualquer outra fé é morta em si mesma.  A fé viva está acompanhada dos frutos do espírito (Gálatas 5v22). A fé morta está acompanhada das obras da carne (Gálatas 5v19-21). A fé que nos traz comunhão com Deus tem vinculo com o amor e a esperança (I Coríntios 13v13). A fé que uma vez foi dada aos santos (Judas 1v3) está centrada no sacrifício de Jesus e seu objetivo é a glória de Deus. Em contraposição a fé morta busca a sua própria glória.

A plenitude da fé se manifesta em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22v37-39). Tiago, em sua carta, discorre sobre as evidencias da fé a partir desse princípio. A fé morta gera uma falsa religiosidade. A fé viva gera a religião pura e imaculada.

Dentre os cristãos, há os que não possuem a verdadeira fé, estes formam um cristianismo paralelo, exercitam-se corporalmente e não em piedade (I Timóteo 4v8). Contudo não convém a nós o julgamento, Deus conhece quem são Seus filhos. A semente da fé no coração dos justos faz que estes produzam seus frutos na estação própria, mas os ímpios são como a moinha que o vento espalha (Salmos 1v3-4).

Que o Senhor possa mais e mais transformar os nossos corações e nos firmar na fé. Busquemos sua misericórdia.

1 – Institutas Volume 1, capítulos III e IV.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A CCB e o Calvinismo

Tulipa, a flor símbolo do Calvinismo.
No último final de semana, um irmão fez uma pergunta interessante no grupo “International Christian Congregation” no facebook: “A Congregação Cristã no Brasil aceita os 5 Pontos do Calvinismo?”

Em primeiro lugar, o que é “calvinismo”?
Calvinismo é um complexo sistema teológico que surgiu a partir da reforma protestante no século XVI, tendo como expoente o reformador João Calvino e desenvolvido por diversos cristãos. Sua maior ênfase está na soberania divina na salvação dos homens. Geralmente seu conceito sobre a salvação é resumido em cinco tópicos conhecido como TULIP, desenvolvido a partir do Sínodo de Dordrecht.

Os cinco pontos do Calvinismo – TULIP

Depravação Total – Deus estabeleceu com Adão um pacto de obras, no qual a sua desobediência geraria a sua morte. Por permissão divina o homem desobedeceu à ordem de Deus e caiu em transgressão. Assim todos os que nascem, nascem num estado de morte e culpados. O homem está morto e depravado ao ponto de por si mesmo não consegue achegar-se novamente a Deus e nem tem vontade de fazê-lo a não ser que seja regenerado pelo Espírito Santo. Para fazer parte do reino de Deus é necessário nascer novamente, não pela vontade da carne, mas pela vontade de Deus.

Eleição Incondicional – Por Seus decretos eternos, antes da fundação do mundo, Deus escolheu aqueles aos quais haveria de chamar para Si, a eleição divina não foi por pré-conhecimento dos que haveriam de aceitá-lo, mas por pura misericórdia e amor de Deus aos Seus eleitos, aos quais antes de realizarem qualquer obra, quer seja boa ou má, Ele os amou.


Expiação Limitada* – Por amor aos seus escolhidos, Deus providenciou a salvação através do sacrifício de Seu Filho Jesus, o Cordeiro que tira o pecado do mundo, a morte do Salvador é potencialmente suficiente para pagar o pecado de todo o mundo, porém ela é somente eficaz e direcionada para aqueles Deus escolheu por Sua eleição.
O Senhor Jesus deu Sua vida somente por Suas ovelhas. 

Graça Irresistível – Existem dois chamados do evangelho: o externo, que é o convite do evangelho que devemos anunciar a todos sem distinção, esse convite pode ser rejeitado; o outro convite é o chamado interno, que é o realizado através do Espírito Santo no coração do ouvinte e a ele é concedido fé para crer em Jesus, a esse chamado não se pode resistir.

Perseverança dos Santos – Aqueles a quem Deus escolheu, chamou, justificou, santificou tem a segurança de que Ele concluirá Sua obra de salvação neles. Ainda que vacilem (pelos vestígios da natureza pecaminosa que ainda há neles) Deus nunca extinguirá Sua graça maravilhosa neles. A santificação só será concluída com a glorificação do corpo na volta do Senhor, nesse estágio toda a natureza pecaminosa será excluída e só se desejará fazer o que é agradável ao Senhor.

*No calvinismo, I Timóteo 2v4 é interpretado que Deus tem Seus eleitos nas diversas classes da sociedade. Existe uma variação do calvinismo, amyraldismo, que considera que na sequencia de Seus decretos, Deus primeiramente decidiu providenciar salvação suficiente a todos e depois eleger os Seus; assim o amyraldismo despreza o 3° ponto do calvinismo.


Minha análise:
A pergunta - A Congregação Cristã no Brasil aceita os 5 Pontos do Calvinismo? - é difícil de se responder. Temos pouca doutrina formalizada. E a doutrina na tradição oral e até nos tópicos anuais são contraditórios. Num mesmo culto onde você ouve “esta graça não é de quem corre atrás,” ou “quem não vem pelo amor, vem pela dor,” (as vezes hiper-calvinismo) você ouve: “cuidado para não cair da graça!” Só que mesmo as afirmações aparentemente calvinistas, se referem exclusivamente à denominação, o que soaria horrível aos ouvidos de verdadeiro calvinista. Tudo isso ocorre pela falta de um mínimo ensino formal aos membros. Embora alguns irmãos cheguem a ser extremamente “pelagianos” ou “semi-pelagianos”, acredito que se devidamente ensinados, nossa maioria não teria dificuldades em aceitar os cincos pontos do calvinismo. Diferente das outras denominações pentecostais que são fortemente “arminianas”. Agora, é impossível haver unanimidade doutrinaria entre os membros. Hoje, há uma diversidade muito grande de pensamentos, e cada pessoa (de qualquer denominação) acaba formando um “credo particular” para si.

Comentário do meu amigo Leo Alves:
“Acho imprecisa essa nomenclatura e a dicotomia "calvinismo x arminianismo". Talvez, Monergismo e Sinergismo ou a Questão da Soberania e Justiça de Deus soariam melhor. Vale lembrar que há outras perspectivas, como os Cumberland Presbyterians e o Amyraldismo. O Amyraldismo ou Escola de Saumur é parecido com os 5 pontos de Dordt mas aceita a expiação ilimitada. Foi a vertente que influenciou os Reformados de línguas latinas: huguenotes e valdenses, antes do grande réveil do século XX. Assim, é possível que a CCB tenha recebido um legado Amyraldista.”

Apesar da pergunta ter gerado repulsa em alguns que rejeitam qualquer título ou que desejam desvincular a CCB do protestantismo, boa parte dos que comentaram, se mostraram simpatizantes ao calvinismo, ou ao mesmo a uma visão “monergista” quanto à salvação, como esclareceu o Leo.


Que Deus nos continue “reformando”, ou seja, conformando-nos aos moldes da Sua Palavra.